Pode o ALFREDINHO BOCA LIVRE ser Santo sem Deus ?
... 5 de outubro de 2009 ... segunda-feira pardacenta ... triste ... parece que o mundo parou ... tudo parou ... vazio .. sem vento ... ... mas quando o vento voltar a se erguer, cumpre tentar Viver ! Será que o SOL vai voltar a brilhar ?
Comentário sobre o assunto em 05 de outubro d2009
A mídia está dando aquele famoso tempo para os ladrões respirarem. Depois de estarem em evidência devido as reportagens investigativas denunciando uma roubalheira por dia, os corruptos foram esquecidos, trocados pelo assunto "olimpiada 2016". Sem dúvida nenhuma os olhos da corrupção também estão voltados para esta grande festa esportiva.
Enquanto isso, eu fico pensando no que fazem os ladrões do dinheiro público quando não estão em evidência.
Presumo que durmam mais tranquilos.
Sendo assim, aproveitando esta folga proporcionada pela ausência dos ladrões na mídia, vou falar sobre um amigo meu que é um verdadeiro gênio, possivelmente um Santo, o Alfredinho Boca Livre.
Em primeiro lugar, ele se orgulha de nunca ter tirado uma Carteira Profissional. Sessenta e poucos anos, e nunca esteve empregado. Também jamais participou da economia alternativa. O máximo que Alfredinho faz em termos de algo parecido com "trabalho", é apresentar pessoas que precisam se conhecer.
Ele é craque em perceber estas necessidades. Se o cara deseja vender uma casa em Belém do Pará, lá na Ilha do Mosqueiro, ele arruma um comprador aqui no sul.
Não cobra nada. As pessoas pagam sem ele pedir um tostão. É chiquérrimo poder dizer aos quatro ventos, que tinha se usado dos préstimos do Alfredinho Boca Livre, pois acrescenta algo de folclórico à vida da pessoa.
Ele conhece todos os políticos e socialites que andam por este Brasil afora. É convidado para todos os eventos importantes Não fala mal de ninguém. A todos defende.
Mas o Alfredinho tem uma postura interessante, para que não se pense que ele é um canalha insensível e aproveitador. Quando fica provado que alguém é ladrão, ele desaparece do mundo desta pessoa. E o melhor, ele chora. Não compreende como uma pessoa pode roubar o dinheiro público, prejudicando o povo em geral.
Se diz um ateu convicto, mas quando tem tempo, seu lazer preferido é entrar nas igrejas, templos ou mesquitas, e nelas descansar. Sempre convida os amigos para acompanhá-lo. Detesta frequentar estes locais na hora de alguma missa ou algo parecido. Gosta de curtir a solidão dos mesmos.
Já entrei com o Alfredinho em algumas Igrejas. Ele filosofa. não reza. As lágrimas muitas vezes escorrem de seus olhos. Sem brincadeira, acho que em muitas ocasiões ele se aproxima da santidade. Lembro de um dos dilemas filosóficos de Albert Camus, quando ele indagava se o homem poderia ser Santo sem Deus.
Certa vez, encontrei o Alfredinho em plena praia da Pituba, em Salvador. Um sol causticante. Ele abriu aquele sorriso, e deu-me um longo abraço. Ele envolve a pessoa com vontade mesmo. Transpira sinceridade.
Olhou para mim e disse: "Lindo dia, não?’. "sim", respondi. E arrematou. Vamos pegar um carro e dar um pulo na igreja do Senhor do Bonfim? ‘Mas Alfredo, com este sol lindo, esta praia..." Ele respondeu: "Lá tá mais fresco e calmo. Tenho que ir lá agora, e preciso de companhia". E lá fui eu ver o Senhor do Bonfim.
Ficamos dentro do Santuário durante uma hora, e ele não falou uma palavra. Na saída, olhou para mim , e disse:
"Desculpe não ter falado com você lá dentro, mas estava pensando num político amigo meu que tenho aqui na Bahia, e estou muito triste com ele. Chorei muito por dentro. Ademais, deve ter sido muito bom para você também, pois estou sentindo que você não anda se comunicando muito bem com você mesmo."
Ele sabia encerrar os assuntos, sem precisar dizer que não queria falar mais dos mesmos.
Também devo dizer que as mulheres andam feito moscas no mel em cima dele. Ele ama todas. Diz que amor tão forte, igual ao dele, não pode ser apenas direcionado para uma mulher. Ele acha que seria uma injustiça. Uma violência.
O interessante, é que ele fala abertamente sobre o assunto. Após o espanto incial, elas pensam que é brincadeira. Depois de um tempo, percebem que não é. Invariavelmente, ficam completamente apaixonadas. O mais fenomenal nesta história, é que todas, com raras exceções, mesmo depois de abandonadas, continuam a amá-lo, e entendem perfeitamente o seu modo de pensar e agir. Certa vez uma delas me disse:
-É gostoso sofrer por um homem que tem tanto amor no coração. Ele é do mundo. Não é justo tirá-lo dele.
Acho que ela tem razão, pois amarrar o Alfredinho num relação amorosa, seria um crime hediondo. Posso dizer que ele é uma espécie em extinção.
Representa o homem livre, descompromissado, sem fronteiras, alma de criança, perspicácia de adulto, romântico, místico, enfim, Alfredinho tem tudo aquilo que os manuais que regem o sucesso do homem moderno não tem.
Felicidades para você Alfredo !
O autor, Wilson Gordon Parker, é escritor
WILSON GORDON PARKER
wgparker@oi.com.br
Nova Friburgo (RJ)