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sábado, 24 de maio de 2008

EROTILDES, O CIDADÃO


FOTO: O encarregado do almoxarifado central da Faetec, Erotildes Alves de Moura

Comentário sobre a notícia:

No dia 14 de maio de 2008, o Globo colocou a seguinte manchete : NOTÍCIAS DE CORRUPÇÃO. Isso é o que classifico como informação de Utilidade Pública.

Poderia ser criada no Globo uma coluna com o título 'COLUNA DO EROTILDES', tendo como sub-título 'Notícias de Corrupção', em homenagem ao Erotildes Alves de Moura, o encarregado do almoxarifado central da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), que denunciou ao MP uma compra superfaturada.

Estou feliz por ter tomado conhecimento da existência de um brasileiro possuidor de tamanha envergadura ética e profissional.

Erotildes, você é o cidadão.


WILSON GORDON PARKER
wgparker@oi.com.br
Nova Friburgo (RJ)

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O Globo, EDIÇÃO DO DIA 16.05.2008


Funcionário já tinha feito acusação antes

'Agora vou até o fim'


Não é a primeira vez que o encarregado do almoxarifado central da Faetec, Erotildes Alves de Moura, de 69 anos, faz denúncias sobre superfaturamento. Isso já havia acontecido no período de janeiro de 1998 a fevereiro de 2001.

— Chegaram a me dizer que as minhas denúncias não dariam em nada. Eu incomodava, pois não aceitava receber o material que não estava com preço justo.

Eu só tenho o ensino fundamental, mas não sou bobo. Não tenho curso superior como esse pessoal que aprende a roubar — diz Erotildes.

Entre 2001 e 2004, ele ficou na Divisão de Patrimônio, para onde foi transferido depois de apontar irregularidades.

Suas denúncias não surtiram efeito. Finalmente, em 2005, voltou para o almoxarifado da Escola de Ensino Industrial.

Há dez anos na Faetec, o encarregado do almoxarifado ganha R$ 1.100 e conta que cansou de ver “coisas erradas” na instituição. Hoje, colegas aplaudem a sua atitude de denunciar:

— Estão dizendo por aí que quero promoção (o presidente da Faetec, Nelson Massini, disse isso).

Que promoção se eu estou indo para a (aposentadoria) compulsória? Em dezembro, faço 70 anos.

Com a experiência de quem já trabalhou na iniciativa privada na mesma função, Erotildes lamenta que existam tantas irregularidades com o dinheiro público:

— Estou cansado de ver roubalheira. Não fui criado com safadeza. Eu sou pobre, mas mantenho a minha dignidade. Estou fazendo isso pelos alunos, pelos meus colegas, pela instituição. A pior coisa é ver a escola precisando de tinta e não haver dinheiro para isso.

Dessa vez, para comprovar suas denúncias, ele tirou cópias das duas notas fiscais superfaturadas que foram parar nas suas mãos.

Além disso, tirou do próprio bolso dinheiro para comprar peças similares às que recebeu no almoxarifado.

Juntou todos os documentos e os entregou ao Ministério Público.

— Agora vou até o fim. O Ministério Público e a polícia estão apurando — conta.

Quando perguntado se não tem medo de sofrer represálias, não hesitou:

— Sou velho e não tenho medo de morrer. Se eu aparecer morto e disserem que reagi a um assalto, investiguem, pois foi execução.

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