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sexta-feira, 11 de abril de 2008

Uma investigação sobre a hipocrisia


Foto: Tarso Genro... explicando ... explicando ... explicando

Comentário sobre a notícia:

Entendo, e sinto, a revolta de Ana Maria Tahan. Jornalista tarimbada, acostumada a presenciar fatos inacreditáveis, ao escrever o seu artigo 'uma investigação sobre a hipocrisia', ela não conseguiu segurar dentro de sí a revolta que invade todas as pessoas que lutam pela dignidade humana.

Essa história da PF só investigar quem vazou o dossiê é a coisa mais surrealista e estúpida que foi inventada no atual governo.

Imaginem um delegado dando ordens para que os policiais só façam a investigaçao para saber quem foi o autor do tiro que matou alguém. O resto não poderá ser investigado. O porque, quem mandou, de onde veio a arma, se foi legitima defesa, nada disso será do interesse da policia.

A coisa é diferente? Não é não, Tarso Genro.

O principio da coisa é o mesmo. Investigação policial pela metade, não existe nem na China. Só mesmo na cabeça dos petistas agregados no Palácio do Planalto.


WILSON GORDON PARKER
wgparker@oi.com.br
Nova Friburgo (RJ)


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JORNAL DO BRASIL - 08 de abril de 2008

Uma investigação sobre a hipocrisia

Ana Maria Tahan


Não há como fugir do tema. Por mais que se tente virar a página, trocar de canal, ligar o MP4, mudar de tela, rodar o dial, o assunto salta, domina, enraivece, indigna. Pior, não se mantém por obra e graça de uma oposição que, como já anotamos neste espaço, está mais para elenco de segunda do que protagonista. Mas fica martelando porque o ator principal, de tanto viver a mentira, não sabe mais interpretar a verdade. É claro, fala-se aqui dos supostos dados sobre gastos com contas tipo B na gestão do ex-presidente Fernando Henrique "vazados" pela Casa Civil da Presidência da República. E analisa-se a "interpretação" da chefe do setor, a ministra Dilma Rousseff.

Depois de negar a existência do dossiê revelado pela revista Veja, de rebatizá-lo de banco de dados, de reforçar a posição de sua principal assessora, Erenice Guerra – que teria mandado levantar as informações no arquivo morto da Casa Civil e ontem foi nomeada para o conselho do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, com direito a verba adicional por participação – de acusar a Folha de S.Paulo de montagem, a ministra, afinal, "permitiu" que o colega Tarso Genro, da Justiça, acionasse a Polícia Federal.

Com uma condição, porque general que se preza, mesmo que vista saias de vez em quando, não se entrega sem luta: a PF deve limitar-se a investigar quem vazou os dispêndios "sigilosos" de FH e da ex-primeira-dama Ruth Cardoso entre 1999 e 2002, o período do segundo mandato tucano.

Quem mandou organizar o "suposto" dossiê, quem escolheu os dados a serem apurados, quem levantou as informações? Bem, isso não será objeto de preocupação dos agentes federais.

A quem será delegada a tarefa de apurar por que e para que foram selecionadas despesas específicas (com carros alugados, vinhos e bebidas em geral, com a cozinheira do Planalto) e não os gastos totais da Presidência e ministérios no período?
Aos subordinados da "mãe do Programa de Aceleração do Crescimento" e queridinha do presidente Lula? Algum funcionário palaciano, daqueles com cinco estrelas petistas, está disposto a assumir a culpa para reduzir o tempo de exposição em praça pública da pretensa candidata do partido à sucessão presidencial de 2010?

Ora, ora, ora, vive-se uma história de perguntas e aspas truncadas, mal colocadas, resultado de frases dúbias, inconclusas, algumas propositalmente indecifráveis. O governo do presidente que veio para reescrever a História do Brasil acionou a Polícia Federal, paga com o dinheiro público, apenas para descobrir a parte do crime que interessa ao Planalto: a violação de sigilo funcional, incluído no artigo 325 do Código Penal. O texto é claro. Prevê detenção variável de seis meses a dois anos, ou multa, se o caso não constitui crime mais greve, "revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação". Tal crime atinge também quem apenas facilita a revelação e, se existe dano à Administração Pública ou a outrem (como FH e Ruth Cardoso), a pena de reclusão pode chegar a seis anos, além de multa.

Se quem tornou públicos dados sigilosos é criminoso, também o é quem facilitou a revelação. No caso, quem mandou apurar parcialmente e com objetivo claramente político os gastos do governo anterior. Ao contrário do que andou falando a ministra Dilma, a relação não foi montada a pedido do Tribunal de Contas da União, nem para antecipar-se à solicitação da CPI dos Cartões Corporativos. Saiu do subsolo do Planalto única e exclusivamente para fomentar a réplica da administração Lula, encurralada por tapioca, carros com motoristas e reforma de mesas de sinuca pagas com cartões corporativos. Surgiu mais ou menos com a função de nivelar os deslizes. Tipo "está bom, exorbitei, mas eles também".

Para não perder o foco, e não se submeter aos interesses palacianos, vale ressaltar que quem facilitou a revelação, ao ordenar o levantamento parcial dos gastos das contas tipo B da era FH (os cartões só passaram a existir em 2002), também terá de ser descoberto pelas investigações da PF. É tão criminoso quanto quem vazou. E o Ministério Público não vai indicar promotor para acompanhar os federais? Isso é de praxe.

Outra coisa mais. Não vale pressionar jornalista a revelar quem passou as informações. A lei assegura o anonimato da fonte, mesmo que o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, jornalista de quatro costados, se tenha esquecido disso temporariamente.

E, por derradeiro, mas não por último, está na hora de se conhecerem os gastos de Lula e Marisa Letícia com os cartões. O dossiê FH-Ruth pelo menos serviu para mostrar que a divulgação das despesas do primeiro-casal em nada abalou a segurança nacional.

[ 08/04/2008 ]

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