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sábado, 24 de maio de 2008

JEFFERSON PÉRES, um defensor da ética na política



Publicado no O GLOBO em 24 de maio de 2008

Publicado no ESTADO DE SÃO PAULO em 24 de maio de 2008

Comentário sobre a notícia:

Jefferson Péres não morreu! É impossivel aceitar tal absurdo.

Para mim, e tenho certeza que para a maioria dos brasileiros, ele apenas pediu um tempo para ficar longe de nós. Ele estará sempre ollhando atentamente o plenário do Senado Federal.

Será muito triste para todos nós ficarmos sem a presença forte e franzina deste grande homem público. Ele não fazia nada de inusitado.

Entretanto, chamava a atenção de todos porque cultivava dentro de si um hábito estranho à maioria dos seus colegas de parlamento: a honestidade.

Nunca tive o prazer de estender a mão e cumprimentar Jefferson Péres, mas a sua partida doeu fundo no meu coração


WILSON GORDON PARKER
wgparker@oi.com.br
Nova Friburgo (RJ)

*

O GloboO, EDIÇÃO DO DIA 24.05.2008

Um defensor da ética na política

BRASÍLIA e MANAUS. Com pouco mais de um metro e meio de altura, o senador
Jefferson Péres (PDT-AM) tornava-se um gigante ao defender a ética na política.


Nos últimos tempos, porém, já não disfarçava o desencanto com os rumos do
corporativismo no Congresso e chegou a anunciar, da tribuna, a disposição de não se candidatar mais quando terminasse, em 2010, seu mandato — o segundo que exercia como senador.

Péres morreu na manhã de ontem de infarto, aos 76 anos, em sua casa em Manaus. O
corpo de Péres está sendo velado no Centro Cultural Palácio Rio Negro, no centro da capital do Amazonas. O enterro está marcado para as 16h em Manaus (17h em Brasília), no Cemitério São João Batista.

Durante a sua vida legislativa, Péres foi uma pedra no sapato de todos os parlamentares que enfrentaram problemas de decoro. Relatou, por exemplo, o processo de cassação do então senador Luiz Estêvão, o primeiro a ser aprovado na história da Casa, em 2000. Chegou a disputar a presidência do Senado contra o então poderoso Jáder Barbalho (PMDB-PA), que venceu a eleição, mas logo foi obrigado a renunciar ao mandato diante de denúncias de corrupção.

No ano passado, durante os dois processos enfrentados pelo então presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDBAL), sofreu ameaças veladas de retaliação por ter sido um dos primeiros senadores a defender publicamente o afastamento do colega do comando da Casa. Mas a cruzada de Péres pela moralidade nem sempre foi bem vista por seus colegas.

Alguns adversários chegaram a chamá-lo de “falso vestal”.

Mesmo desiludido, Péres não hesitou em cobrar satisfação de dois companheiros de
partido: o atual ministro do Trabalho, Carlos Lupi, em razão de denúncias de que estaria usando a pasta para favorecer aliados do PDT e da Força Sindical, e o deputado Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho, sob suspeita de envolvimento no desvio de verbas do BNDES. Foi voz isolada ao pedir que a cúpula do PDT tomasse uma posição e chegou a sugerir o afastamento de Paulinho até a conclusão da investigação.

A notícia da morte deixou consternados políticos de todos os partidos e até mesmo desafetos. Lupi divulgou nota referindo-se a Péres como “homem de uma envergadura moral ética singular, que sempre se destacou na defesa intransigente do Brasil”. Lembrou, ainda, que no Congresso Péres “travou batalhas inesquecíveis, colocando sempre em primeiro plano seu amor e sua ferrenha defesa aos princípios básicos da ética política”.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também divulgou nota solidarizando-se com a família Péres e destacando sua trajetória política na “defesa intransigente da democracia e da ética”. Para Lula, Péres “sempre procurou guiar-se pelo que julgava ser o interesse público, mesmo nos momentos de divergências com o governo".

— Era um homem correto, extremamente correto e dedicado às causas de interesse
do Brasil — disse o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes.

O presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), lembrou, num discurso emocionado, o apoio de Péres à luta pela recuperação da credibilidade do Legislativo.

— Ninguém como ele superou a defesa da democracia em seus pronunciamentos.

Ele esteve sempre voltado para a defesa do Senado, das prerrogativas da Casa. Ele era um dos primeiros senadores que se levantavam na defesa deste Senado.O governador do Amazonas, Eduardo Braga (PMDB), decretou luto oficial por três dias noestado.

Para ele, Péres foi um marco na ética da política nacional.

A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) lamentou em nota assinada por seu
presidente, Mozart Valadares Pires: “Símbolo da independência política, Péres lutoupela democracia durante todo a sua carreira com uma postura ética irrepreensível que serve de exemplo para gerações atuais e futuras”.

— Foi um homem público devotado às causas que abraçou, tanto em sua proeminente
vida parlamentar como na sua vida de advogado.

Deu ao Senado, ao Amazonas e ao Brasil o melhor de seu intelecto. Será uma sentida ausência em nosso plenário. Estou triste — disse o senador José Sarney (PMDB-AP).

De Budapeste, o senador Cristóvam Buarque (PDT-DF), de quem Péres foi vice na
chapa que disputou a Presidência da República em 2006, escreveu em nota: “Com o
seu falecimento, morre também a moral da política brasileira”.

— Ele era a consciência crítica de todos nós — resumiu o senador Pedro Simon
(PMDB-RS).

A ex-senadora do PSOL Heloísa Helena foi a primeira a chegar ao velório. Ela estava em Brasília e voltava para Alagoas. No aeroporto soube da morte do amigo e decidiu mudar o roteiro.

Um dos últimos políticos a conversar com Péres, na viagem de Brasília a Manaus na tarde de quinta-feira, o senador Arthur Virgílio (PSDBAM) contou que o encontro durou 40 minutos: — Ele parecia e estava absolutamente bem.

Para Virgílio, Péres foi um dos melhores senadores que o Amazonas deu ao Brasil:

— Ele tinha um senso de justiça extraordinário, um homem com profundo conhecimento da política.

De acordo com a assessoria do senador, nos últimos três meses ele apresentou um leve quadro de hipertensão, mas nada que chegasse a preocupar seus médicos nem a si mesmo. O senador nunca precisou se submeter a qualquer cirurgia.

Jefferson Péres deixa Marlídice, com quem estava casado há 40 anos, e três filhos: Ronald, de 39 anos, advogado e procurador do Amazonas; Roger, de 34, administrador de empresas; e Rômulo, de 32, também advogado e procurador.

Péres será substituído por seu primeiro suplente, o também pedetista Jeferson Praia — que atualmente é secretário de Desenvolvimento Social da Prefeitura de Manaus.

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