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sábado, 24 de maio de 2008

Depois da surpreendente punhalada que fere fundo, o afago que afoga dores...



Publicado no JORNAL DO BRASIL em 20 de maio de 2008

Comentário sobre a notícia:

Concordo com o Augusto Nunes. No Palácio do Planalto localiza-se a floresta dos afagados e afogados. Lula é o rei dessa selva repleta de cipós que se enroscam na falsidade de um sorriso.

A mão que afaga é a mesma que crava a espada. A lista de vítimas é enorme. Lula deve passar as madrugadas imaginando as maneiras mais sutis de se trair alguém. Ele é mestre no assunto.

Os eleitores foram afagados com os discursos éticos e morais do candidato petista. Com o decorrer do tempo todos foram friamente afogados. Para que a desilusão não fosse uma unanimidade nacional, a parte mais pobre dos afagados passou a receber bolsas de consolação. Um afago diabólico dado ao afogado que agoniza.

Mas Lula sabe muito bem que ninguém se equilibra durante muito tempo na aresta vertiginosa da ilusão. Assim sendo, ele descobriu que o único jeito é engatar uma mentira com a outra, formando um grande exército de afagados e afogados.

Os eleitores, os ideais do PT, e todos os auxiliares que poderiam atrapalhar os seus novos negócios, pasaram a fazer parte ativa destes afogamentos em série. Marina Silva quando percebeu que iria ser afogada nas águas podres do pãntano lulista, tirou um salva-vida da sua consciência, e não se afogou.

Mas podem estar certos de que o Lula já estava há muito tempo de olho num auxiliar do Cabral, não do Cabral que descobriu o Brasil, mas o Cabral governador do Rio de Janeiro.

O histórico do Carlos Minc, o ecologista de Ipanema, parece ser o de um homem que adora ser afagado. Só falta saber se o mesmo saberá usar o salva-vida a tempo.


WILSON GORDON PARKER
wgparker@oi.com.br
Nova Friburgo (RJ)

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JORNAL DO BRASIL - 18 de maio de 2008

Sete dias - A floresta sem pai nem mãe

Augusto Nunes


Depois da surpreendente punhalada que fere fundo, o afago que afoga dores, cauteriza feridas e sufoca revides. O presidente Lula recorreu de novo a essa fórmula, testada com freqüência crescente desde janeiro de 2003, para enfraquecer ainda mais a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, sem se expor ao risco de ver fora do governo uma figura mundialmente admirada como defensora da Amazônia.

"O companheiro Mangabeira vai ser o coordenador dos trabalhos", informou Lula ainda no meio do discurso que celebrou o lançamento do Plano Amazônia Sustentável. Era a punhalada: até aquele momento, a ministra acreditava que o posto lhe pertencia. "Mas ninguém tira de você, Marina, a idéia de ser a mãe do PAS", consolou o orador. Era o afago, sublinhado pelo sorriso confiante de quem está até cansado de tanto vencer.

Marina reagiu ao recado com o sorriso sem luz de quem enfim se cansara de perder. Compreendeu que, antes de ser promovida a mãe de sigla, perdera a guarda do filho para o ministro Mangabeira Unger, um sotaque à caça de idéias. Era o beijo da morte, constatou. Lula não percebeu que fora longe demais.

"Estou casado há 34 anos, e tenho uma relação política com Marina Silva há 30", diria com voz de espanto na terça-feira, cinco dias depois do desastrado improviso, um Lula atônito com a demissão da acreana franzina e valente que conheceu quando o PT nem nascera. A carta de despedida atesta que não há diferenças relevantes para a jovem discípula de Chico Mendes e a remetente. Quem mudou – e muito – foi o destinatário.

O Lula do século passado não dava um pio sobre questões ambientais sem consultar a companheira que nascera no meio da mata, começara a alfabetizar-se já adolescente, resistira a todas as doenças da selva, sobrevivera como empregada doméstica e chegara ao Senado com pouco mais de 30 anos. O novo Lula reduziu a estorvo o que já foi oráculo.

Marina talvez devesse ser menos teimosa, sugere um ligeiro balanço da gestão. Lula certamente não deveria ser tão flexível, sabem até as sucuris de quartel. O chefe do PT que ouvia Marina é o chefe de governo que ouve Blairo Maggi. A ministra ama a Amazônia, embora não saiba com clareza como defendê-la. O governador de Mato Grosso odeia a floresta, e sabe como destruí-la. "A crise dos alimentos só será resolvida com a derrubada de árvores", receita o terror das matas.

"Se deixar, ele planta soja até nos Andes", preveniu Carlos Minc horas depois de aceitar o convite para instalar-se no gabinete que Marina desocupou. Lula garante que Maggi, além de bom companheiro, é homem sensato. "Ele saberá conciliar o agronegócio com a preservação do ambiente", ilude-se. Abalado pelo contra-ataque, o presidente decolou rumo à estratosfera.

"A companheira Marina se foi, a política ambiental continua", viajou. Que política? A que entrega imensidões territoriais aos índios de Roraima ou a que mata de desnutrição as tribos de Rondônia? A que combate a devastação no Pará ou a que não enxerga nem ouve as motosserras de Mato Grosso?

E quem será o pai da sigla sem mãe? Carlos Minc, que desconhece a Amazônia? Ou Mangabeira Unger, que finge conhecê-la? Talvez seja melhor deixar o PAS na orfandade. Serão bem maiores as chances de não acabar perdido na floresta.

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