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segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

A menos santa das ceias


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Publicado no JORNAL DO BRASIL em 29 Janeiro 2008

Augusto Nunes, em sua coluna, reproduziu as frases de Lula na Santa Ceia tupiniquim realizada em Brasilia. "Sentamos a esta mesa aqui, e parece a Santa Ceia: todo mundo amigo". Parece, mas não é, Lula. "Mas depois passamos um ano sem conversar entre nós". Os discípulos não se suportam, Lula. "Há quase meses e meses que vocês não trocam idéias". Idéias ? Que idéias, Lula ? Devo lembrar ao Novo Cristo estabelecido leigamente em Brasília, as palavras proferidas por Jeremias, 48:10 : "Maldito aquele que fizer a obra do SENHOR relaxadamente." Abre o olho, Lula.
Wilson Gordon Parker, Friburgo (RJ)

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Jornal do Brasil, 27 de janeiro de 2008

SETE DIAS

Augusto Nunes
augusto@jb.com.br


A menos santa das ceias

Em vez de 12 apóstolos espalhados pela mesa retangular, acomodavam-se na mesa redonda presidida pelo mestre 37 devotos, todos sem chances de canonização. O futuro dirá se, como há quase 2 mil anos, o grupo incluía dois traidores.

O passado informa que ali não faltavam pecadores, alguns com mais contas a acertar com a justiça divina que Judas Iscariotes. Não seriam distribuídos pão e vinho, só sanduíches de presunto.

Mas o homem de barba na cabeceira da mesa decidiu que essas diferenças eram irrelevantes. E caprichou no papel de Jesus Cristo.

As palavras de abertura avisaram que, aos olhos do presidente da República, a 16ª reunião do ministério promovida desde 2003 tinha tudo a ver com a passagem bíblica que inspirou o célebre quadro de Leonardo da Vinci.

"Sentamos a esta mesa aqui, e parece a Santa Ceia: todo mundo amigo", disse Lula a seus discípulos na penúltima quarta-feira deste janeiro.

Transformados subitamente em amigos de infância, todos sorriram uns para os outros. Edison Lobão e Dilma Rousseff pararam de trocar pontapés sob a mesa. Marina Silva acenou para Mangabeira Unger.

"Mas depois passamos um ano sem conversar entre nós", continuou o pregador. (A Santa Ceia de verdade foi, para Cristo, também a última. Mortos não conversam. Os sobreviventes deixaram de encontrar-se para escapar da cadeia e da forca. Pelo jeito, Lula não sabe disso).

"Há quase meses e meses que vocês não trocam idéias", repreendeu Lula.

Bilhetes rabiscados às pressas comprovaram que a turma captara o espírito da coisa. Num deles, Celso Amorim comunicou a Carlos Lupi que vê com simpatia a instalação de uma Casa do Trabalhador em cada embaixada. Noutro, Guido Mantega prometeu a Geddel Vieira Lima liberar no dia seguinte aquele dinheiro que deveria ter saído no ano passado. Luís Marinho convidou Matilde Ribeiro para acompanhar a seu lado, num camarote na Sapucaí, os desfiles das escolas de samba. Nelson Jobim perguntou a Tarso Genro como é mesmo o nome do ministro da Agricultura.

E ficou combinado que todos estarão juntos no Natal.

Até lá, tratarão de obedecer aos mandamentos do mestre. Devem celebrar as proezas do governo. Devem controlar o Congresso. E vencer a eleição deste ano. Nada tem de surpreendente a constatação de que o católico Lula ignore o que foi a Santa Ceia.

Quem acha leitura pior que exercício em esteira sai em desabalada carreira quando vislumbra um exemplar da Bíblia. Espantosa é a descoberta de que o homem enviado pela Divina Providência para salvar o Brasil já se sente à vontade para brincar de Cristo. Não para salvar a Humanidade, mas a própria pele.

Se Deus não fosse brasileiro, se não tratasse Lula com a camaradagem de compatriota, o mais tremendo dos raios teria fulminado a menos santa das ceias.

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