Crônica escrita para o Dia da Criança em 18 setembro 2002
O Pelotão das Crianças Abandonadas
(Wilson Gordon Parker)
Em 06 de outubro de 1988, com a promulgação da Constituição Federativa do Brasil, foi instaurada uma nova ordem jurídica, no trato da questão infanto-juvenil - O Direito Constitucional de Crianças e Adolescentes.
Em 12 de outubro de 1990, entrava em vigor a Lei nº 8.069, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Com esses diplomas, a norma jurídica interna reconheceu Crianças e Adolescentes como "Pessoas em Condição Peculiar de Desenvolvimento".
O Dia da Criança, 12 de outubro, deveria ser comemorado junto com o dia da Injustiça, em 23 de agosto. Faria muito sentido.
Sempre lembrada em discursos políticos, as crianças de todo o mundo, principalmente nos países subdesenvolvidos, atualmente conhecidos como países em "desenvolvimento", servem de catapulta para a eleição dos inescrupulosos que se lançam no caminho do poder e da fortuna.
Enquanto isso, numa favela em qualquer cidade brasileira, uma garotinha negra brinca com a cabeça de uma boneca, enquanto ao seu lado, um garoto branco segura a asa de um avião, levando-o em direção aos céus.
A ternura dos olhos brancos da menina, juntamente com a audácia dos olhos negros do menino, jogados ao lado de uma lixeira coletiva, cheia de ratos e urubus, faz com que uma nuvem negra cubra o sol.
No nordeste, a mãe coloca na boca da criança uma mamadeira feita à base do leite de cabra e de aguardente.
Faz passar a fome e evita o choro.
Nas cidades praianas do litoral brasileiro, meninas de todas as raças, filhas da miséria e do abandono, trazem em seus olhos o brilho da esperança trágica, aparentando uma maioridade fatídica, própria de quem nunca usufruiu a ingenuidade da infância.
Do outro lado da história, homens louros, de olhos azuis, saudáveis de corpo, podres no íntimo, acariciam com os olhos e com as mãos, os corpos frágeis das crianças adultas que os atraem de tão longe.
Em qualquer lugar do planeta, onde houver miséria, estes desequilibrados estarão presentes, prontos a sustentarem o turismo internacional da pedofilía.
Tudo isto sempre estará protegido, consciente ou inconscientemente, pelas sociedades locais, que farão vista grossa para a violência que acontece a sua volta, e sutilmente estimulada pelo governos, pois este tipo de turismo gera muitas divisas para o país.
Atropelados pela miséria, os pais não terão meios de protegerem os seus filhos. Tentam de tudo, mas a pobreza esmaga sentimentos, atropela os valores morais, deixando para a criança decidir o que fazer da sua vida.
Afundados na miséria em que foram criados, estas crianças procuram o meio mais fácil de sair do cinturão infernal em que nasceram.
A fim de fugir da indignidade em que sempre viveram, crianças e adolescentes procuram uma dignidade que tem como único parâmetro a sobrevivência pessoal da melhor forma possível.
Quase sempre, a melhor forma será a mais dolorosa.
No campo e nas cidades, a criança pobre começa a trabalhar cedo. Uma, em um milhão, conseguirá estudar numa faculdade, terá um emprego razoável, e levará uma vida digna. A empresa familiar que a colocou no mundo não sabia o que estava fazendo, porque nunca lhe explicaram nada sobre o assunto.
Pai e mãe são também filhos da miséria, que se reproduziram na mesma areia movediça. Todos sofrerão a vida inteira, e seus descendentes terão a pobreza como única herança.
O silêncio de Deus se confunde com a omissão dos homens.
Para falar um pouco das crianças do resto do mundo, que carregam os mesmos problemas das brasileiras, devo citar um que é terrível, mas não existe aqui no Brasil, qual seja, a tragédia que são as minas terrestres abandonadas por este mundo afora.
Essas verdadeiras bombas do tempo, e os engenhos por explodir, significam um perigo particular para as crianças, especialmente porque elas são naturalmente curiosas e podem apanhar objetos estranhos que encontram.
Dispositivos como as minas "borboleta", utilizadas extensivamente no Afeganistão pela antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, são coloridas de um verde brilhante e têm duas "asas".
As minas terrestres têm sido utilizadas em muitos conflitos desde a Segunda Guerra Mundial e, em particular, em conflitos internos.
Só o Afeganistão, Angola e o Camboja, possuem juntos um total de, pelo menos, 28 milhões de minas terrestres e 85% das mortes causadas pelas minas em todo o mundo. Angola, com cerca de 10 milhões de minas terrestres, possui uma população de amputados de 70.000 pessoas, das quais 8.000 são crianças.
As crianças africanas vivem no continente mais infestado de minas terrestres - existem cerca de 37 milhões de minas em, pelo menos, 19 países africanos - mas todos os países são, de alguma maneira, afetados.
Tenho certeza que, em alguma época que está por vir, todas as crianças do mundo serão felizes.
E os adultos agradecem !
WILSON GORDON PARKER
wgparker@oi.com.br
Nova Friburgo (RJ)
EFE - Quinta, 14 de junho de 2007
ONU: fome matou uma criança a cada 5 seg em 2006
A fome matou uma criança menor de dez anos a cada cinco segundos no mundo em 2006, disse hoje o relator da ONU sobre o Direito à Alimentação, Jean Ziegler.
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1 Comentários:
Retrato fiel da miséria humana,principalmente no que diz respeito das crianças que nem o direito de serem crianças possuem.
Triste, vergonhoso....mas real.
Beijos
Por Unknown, às 12 de outubro de 2008 às 15:38
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