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sexta-feira, 22 de agosto de 2008

DETESTO POLÍTICA

Comentário sobre a notícia:

"Concordo plenamente com o artigo 'Quem pune é o eleitor', da jornalista Ana Maria Tahan. A maioria da população é informada pelos inúmeros meios de comunicação sobre as coisas boas e ruins que acontecem aqui no Brasil. Cinquenta milhões tem acesso a Internet. Dificil se ver no interior uma casa sem antena parabólica. É informação para dar e vender. É neste ponto que surge a grande pergunta: porque votamos tão mal ? Não dá para entender. Mas só não entende quem não quer. O brasileiro, seja pobre ou rico, nasce ouvindo a frase que nunca vai esquecer ao longo de toda a sua vida: DETESTO POLÍTICA! A partir daí, vai se desenvolvendo, com raras exceções, um cidadão alienado, propositadamente alheio aos fatos que ouve, lé e vê, sem a menor curiosidade de saber o que acontece nas entrelinhas da notícia. A única coisa que sabe dizer ao ver "políticos" como Claudinhos, Jerominhos e Natalinos, é aquela velha conhecida frase dos tempos de infância: DETESTO POLÍTICA! Aliás, a jornalista se esqueceu de acrescentar alguns nomes que estão fora do mundo eleitoral das favelas: Malufinhos, Barbalhinhos, Garotinhos, Quercinhas e Mensalinhos. Os meios de comunicação precisam explicar aos que 'DETESTAM POLÍTICA' que, se eles não pararem de detestar política, eles sempre serão governados pelos políticos que eles detestam."

Wilson Gordon Parker
wgparker@oi.com.br
Nova Friburgo - RJ


JORNAL DO BRASIL, 12 de agsoto de 2008

Coisas da Política - Quem pune é o eleitor

Ana Maria Tahan


Claudinhos, Jerominhos e Natalinos não são invenção do Tribunal Superior Eleitoral. Menos ainda do Supremo Tribunal Federal. Concorrem este ano ou se elegeram com a complacência dos partidos políticos e o voto dos eleitores. Têm amazônicos prontuários policiais? Têm. Sentença transitado em julgado, ou seja, definitiva, sem direito a recurso, como manda a lei? Não. Então continuam liberados para mimar, ou amedrontar, brasileiros com maioridade eleitoral.

Esta é a interpretação legal, clara e objetiva da maioria dos ministros e integrantes tanto do TSE quanto do STF. Ora, se a lei não é boa, mude-se a lei. Quem muda? O Congresso. Deputados e senadores estão interessados na matéria? Fingem que sim, na verdade, não. Vários têm contas a acertar na Justiça. Distantes de artigos e preceitos, as agremiações políticas poderiam tomar a si a tarefa de separar o joio do trigo e limpar da relação de nomes que apresentará ao eleitor os que não andam na linha ou não mostraram respeito na hora de gerir recursos públicos. Eximem-se, contudo, da missão. Se o fizessem teriam dificuldades para completar a lista de concorrentes.

Homens e mulheres que ostentam, com orgulho, fichas limpas não se sentem atraídos por palanques e tribunas legislativas. A tal imunidade parlamentar motiva especialmente quem tem folha corrida em delegacias e tribunais país afora.

Parcela significativa de eleitores ainda são controlados por coronéis, brasileiros que se impõem pelo medo ou poder. Os tradicionais, donos de terra, dos postos de trabalho e do cotidiano de eleitores, especialmente nos grotões nordestinos, deram lugar aos bandidos travestidos de traficantes ou milicianos dos grandes centros urbanos, proprietários de um arsenal bélico igual ou superior ao ostentado pelas Forças Armadas.

Tais fatos justificam a submissão do eleitor? Em teoria, não. Habitantes de favelas ou do asfalto têm, hoje, acesso igual à informação. A televisão, incluindo canais pagos, está ligada em casas sem acabamento ou em edifícios de luxo. Quase 50 milhões de brasileiros acessam a internet diariamente. Outro tanto, eventualmente. Rádios funcionam em qualquer recanto. Jornais e revistas não se massificaram, mas embrulham, sem custo adicional, as bananas e peixes nas feiras livres, as edições populares atraem cada vez mais leitores e passam de mão em mão e ainda há as publicações gratuitas, distribuídas aos milhares em pontos estratégicos das regiões metropolitanas.

Não é por falta de conhecimento que os brasileiros das cidades ainda se sujeitam ao desejo dos criminosos na hora de identificar seu candidato na urna eletrônica. Vivem com medo. Residem em territórios nos quais o Estado perdeu a soberania, como reconheceu o candidato do PMDB à prefeitura do Rio, Eduardo Paes, na entrevista publicada domingo pelo JB. Em que bandidos ditam as regras porque assumiram o poder ausente. Ninguém contesta tal raciocínio. As comunidades carentes aceitam as normas do Mal porque as do Bem não sobem ladeiras.

As receitas para inverter a realidade são variadas. E exigem tanto tempo e paciência quanto foi longo o percurso até se chegar ao atual ordenamento desordenado. A cidade entrou no jogo da convivência com o crime e para sair de campo terá um preço a pagar. E precisa começar a saldar a dívida em outubro. Com ou sem TRE, TSE e STF urge aprender a votar certo. Não se pode delegar a juízes um dever que é de cada um e de todos.

Assim como se tem de cobrar dos eleitos o compromisso com a retomada do controle dos morros, uma solução para o trânsito caótico, mais creches, escolas, ensino profissionalizante, mais guardas e segurança, ruas e calçadas sem buracos, menos camelôs, combate à pirataria, hospitais-modelo, postos de saúde 24hs e por aí afora, também se deve aprender a exercer o voto com responsabilidade.

Os Claudinhos, Jerominhos e Natalinos, repetindo, são cobras criadas por eleitores e filhos da ausência do Estado. Intimidaram quem se dispôs a ser intimidado em regiões no qual impera o fuzil daqueles que vivem à margem da lei porque a lei não se faz presente. É o círculo vicioso que só terá um fim quando os poderes ditos constituídos recuperarem, com o impulso do voto consciente, o domínio sobre os territórios do crime.

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