"31 DE MARÇO DE 1964"
"64 - O golpe" - Vídeo com roteiro de Maraísa Paes e produção da roteirista em parceria com Neto Souza - mnmidia - Faz um apanhado geral sobre o golpe militar e os anos de chumbo. Apresentado como parte integrante de seminário na Fundação Universidade Vale do Acaraú, em Belém - PA"
Comentário sobre a notícia, em 25 de março de 2010:
Há muitos anos atrás, no dia 31 de Março de 1964, aconteceu em nossa terra, uma tragicômica quartelada, que iria colocar o Brasil nas mãos dos militares, permitindo que eles fizessem o que bem entendessem com o País e todo o seu povo.
Desde o início dos anos 50, quando houve a eleição democrática de Getúlio Vargas, derrotando o brigadeiro Eduardo Gomes, que as elites brasileiras estavam tentando implantar no País um governo que as favorecesse.
Com o suicídio de Vargas em agosto de 1954, depois de muita confusão, tivemos a conturbada posse do vice-presidente Café Filho na presidência.
Logo após, o povo elegeu Juscelino Kubitchek, que iria fazer 50 anos em 5, e havia derrotado o candidato das elites, o general Juarez Távora.
"Uma homenagem ao grande Presidente do Brasil Juscelino Kubitschek! jingle da campanha JK-55"
Tentaram derrubar o Juscelino do poder, iniciando uma quartelada na selvas amazônicas, em Jacareacanga e Aragarças, lá pelo lado do Pará. Mas o negócio era muito louco e não deu certo.
Por fim, em 1960, as nossas elites conseguiram eleger o seu representante para a presidência do País, um aloprado chamado Jânio Quadros, o homem que iria "varrer" a corrupção doBrasil.
Por motivos ocultos, e segundo o mesmo, "pressionado por forças ocultas", o referido personagem resolveu largar a presidância seis meses depois de eleito. Antes de entrar no navio que iria levá-lo para um exílio etílico na terra do wiskey, o ainda presidente Jânio Quadros, lucidamente , assinou uns decretos que favoreciam as multinacionais.
Como o vice-presidente eleito era o João Goulart, que personificava as classes trabalhadoras , não pode ser empossado, porque os militares, que representavam as elites, não queriam.
Assim sendo, foi adotado o regime parlamentarista no Brasil. Tempos depois, com o País voltando ao presidencialismo, João Goulart tomou posse.
Mesmo sendo um grande proprietário de terras, ele assumiu um compromisso com as forças progressistas da nossa sociedade, de levar avante todas as reformas de base.
No entanto, a sua visão política era muito limitada, e, ao invés de isolar os conservadores dentro de suas próprias contradições, o que fez foi unir todos eles contra sí.
João Goulart foi um dos políticos mais frágeis que o Brasil já teve, conciliador sem nunca conseguir conciliar nada, fraco nas articulações políticas, e um reformista que não soube conduzir a reforma.
Ele lutou pela reforma agrária e urbana, pela nacionalização do sistema bancário, não executou nenhuma política de achatamento salarial, e fez com que o Congresso Nacional aprovasse a lei que limitava a remessa de lucros para o exterior.
Mas tudo isto foi feito atabalhoadamente, e ao invés de unir as forças políticas em torno de si, conseguiu distanciá-las.
O capitalismo nacional, que estava surgindo, se uniu ao capitalismo internacional. Pelo temor que Goulart provocava, os empresários do campo se uniram aos da cidade.
E para completar o festival de inconpetência, rompeu com a hieraquia militar, comparecendo a um comício no Rio de Janeiro, patrocinado pelos sargentos.
"Em 13 de março de 1964, Jango discursou na Central do Brasil para 150 mil pessoas. Ele anunciou reformas, como a nacionalização de refinarias de petróleo e a desapropriação de terras para a implementação da reforma agrária, numa tentativa desesperada de conseguir apoio popular."
Depois disto tudo, em 31 de março de 1964, aconteceu a quartelada, um golpe militar arquitetado e tramado pelas elites brasileiras, gerenciada pelo embaixador americano Lincoln Gordon.
Como era unanimidade entre os militares, não foi necessário que se disparasse qualquer tiro, mas aconteceram alguns lances cômicos e rocambolescos.
No Rio de Janeiro, o filho de uma tradicional família de milicos, capitão na época, saiu da Vila Militar, cruzou a cidade a bordo de um potente tanque usado na Segunda Guerra mundial pelos USA, e foi estacioná-lo no palácio Guanabara, residência do governador golpista Carlos Lacerda, para defendê-lo de uma possível invasão que os fuzileiros navais, supostamente aliados de Goulart, iriam fazer, desembarcando na praia de Botafogo, vindos da cidade de Niterói.
Na praia de Copacabana, Posto Seis, o coronel do exército, conhecido por Montanha, depois de tomar alguns chopps no bar que fica ao lado do Forte Copacabana, acompanhado de alguns outros bêbados, resolveu invadir a fortaleza militar. Adentrando de peito aberto pela guarita, mostrou a sua carteira, tomou o fuzil do sentinela, e determinou que a partir daquele momento o forte estava sob seu comando.
Os oficiais do forte estavam tomando banho, pois tinham acabado de jogar o habitual e cansativo vôlei de praia.
Ao mesmo tempo, partia de Minas Gerais, em ritmo de piquenique cívico, um grande comboio militar, comandado por alguns generais, que estavam a serviço do banqueiro Magalhães Pinto, governador do estado.
Dias depois, eles iriam se confraternizar num grande churrasco na cidade de Petrópolis, com as tropas do 1º exército, sediadas no Rio de Janeiro, supostamente leais ao presidente.
O grande "amigo" de João Goulart, General Amauri Kruel, tinha o comando do 2º exército. Alí estava o ponto mais importante do mapa militar barsileiro. Mas depois de algumas conversinhas de bastidores, o referido general mudou de casaca, e colocou a sua tropa a serviço do embaixador Lincoln Gordon.
"Operação Brother Sam - Imagens do Filme Jango mostrando a verdade (revelada anos depois pela CIA) sobre o apoio norte americano a um golpe militar em países que os contarie, como fazem mundo afora"
No sul, o histerismo inútil de Brizola, sempre foi de grande valia para a queda do presidente constituído. Naquela época, o grande caudilho ainda não tinha se dado conta que já tinha passado o tempo em que o sujeito saia lá do sul e vinha amarrar o cavalo em algum monumento aqui no sudeste.
Assim sendo, atolados nos seus erros de avaliação política, Goulart, Brizola, Arraes e todos os outros que defendiam as reformas de base na sociedade brasileira, foram obrigados a deixar o país, e entregá-lo nas mãos dos militares, que iriam dar início a era da tortura, da corrupção sem limites, do endividamento externo e interno, e da obra mais satânica da quartelada de 1964, que foi a despolitização de toda uma geração, transformando os nossos jovens em brasileiros sem nenhuma emoção cívica.
Toda esta podridão moral e cívica que vemos hoje em dia neste País, devemos a esta tragicômica quartelada de 31 de março de 1964.
"Joana Ferraz, professora da UNI-RIO, nos conta sobre os dois momentos da ditadura militar no Brasil"
DENIZE GOULART tinha apenas seis anos quando saiu às pressas da Granja do Torto, acompanhando os pais, na noite do dia primeiro de abril de 1964, deixando Brasília para um longo exílio no Uruguai. Em 22 de maio de 2007, ela concedeu esta entrevista, "Em nome do pai, João Goulart" ...
[Leiam Aqui...]
WILSON GORDON PARKER
wgparker@oi.com.br
Nova Friburgo (RJ)
"Lula elogiando o general Médici, isto é, a ditadura militar. Muitos dizem que o general Golbery foi quem lançou Lula na política, para que ele fizesse frente ao Brizola."
Folha de S. Paulo - 25/03/2010
Sem adjetivos
Eliane Cantanhede
"Eu sabia que estava com um cheiro de suor, de sangue, de leite azedo. Ele [delegado Fleury] ria, zombava do cheiro horrível e mexia em seu sexo por cima da calça com olhar de louco."
De Rose Nogueira, jornalista em São Paulo. Da ALN, foi presa em 1969, semanas depois de dar à luz.
"No quinto dia, depois de muito choque, pau de arara, ameaça de estupro e insultos, abortei. Quando melhorei, voltaram a me torturar."
De Izabel Fávero, professora de administração em Recife. Da VAR-Palmares, foi presa em 1970.
"Eu passei muito mal, comecei a vomitar, gritar. O torturador perguntou: "Como está?". E o médico: "Tá mais ou menos, mas aguenta". E eles desceram comigo de novo."
De Dulce Chaves Pandolfi, professora da FGV-Rio. Da ALN, foi presa em 1970 e serviu de "cobaia" para aulas de tortura.
"Eu não conseguia ficar em pé nem sentada. As baratas começaram a me roer. Só pude tirar o sutiã e tapar a boca e os ouvidos."
De Hecilda Fontelles Veiga, professora da Universidade Federal do Pará. Da AP, foi presa em 1971, no quinto mês de gravidez.
"Eu era jogada, nua e encapuzada, como se fosse uma peteca, de mão em mão. Com os tapas e choques elétricos, perdi dentes e todas as minhas obturações."
De Marise Egger-Moellwald, socióloga, mora em São Paulo. Do então PCB, foi presa em 1975.
Ainda amamentava seu filho. "Eu estava arrebentada, o torturador me tirou do pau de arara. Não me aguentava em pé, caí no chão. Nesse momento, fui estuprada."
De Gilze Cosenza, assistente social aposentada de Belo Horizonte. Da AP, foi presa em 1969. Sua filha tinha quatro meses.
Trechos de 27 depoimentos de sobreviventes, intercalados às histórias de 45 mortas e desaparecidas no livro "Luta, Substantivo Feminino", da série "Direito à Verdade e à Memória". Será lançado na PUC-SP hoje, a seis dias do 31 de março.
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Prezada Eliane Cantanhede, emocionante este seu texto "Sem adjetivos" ... O ser humano que disser que não chora quando lê isso é um grande Filha da Puta ... desculpe , mas tinha que dizer
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