ROUBO EM BRASILIA
O Vídeo que explica o escândalo do Distrito Federal
Comentário sobre a notícia:
"Lula disse que as imagens do governador de Brasilia José Roberto Arruda, o “big boss”, recebendo alegremente uma bela propina, não falam por si só. Tal qual as rosas que não falam, mas exalam o perfume do amor, do mestre Cartola, as imagens da turma de ladrões recebendo o dinheiro roubado dos cofres públicos exalam o fedor da roubalheira geral que tomou conta de grande parte do poder no Brasil. A inacreditável frase do Lula dizendo que as imagens, claras e perfeitamente compreensíveis, dos ladrões distribuindo a grana do povo entre eles, mostra claramente o que é ser político corrupto aqui no Brasil. Vale tudo! É triste a gente saber que o presidente não consegue distinguir num vídeo a diferença entre o certo e o errado. Para ele, e para os eleitores que na proxima eleição ainda deverão votar no governador de Brasilia, os valores éticos e morais são coisas invisíveis que só servem para atrapalhar a vida dos donos do poder. Voltamos ao segundo tempo da história do "eu não ví nada, nem sei de nada". Agora é "eu vi tudo, mas não entendi nada"."
WILSON GORDON PARKER
wgparker@oi.com.br
Nova Friburgo (RJ)
José Roberto Arruda mentindo e admitindo
O então senador Luiz Estevão (PMDB) rivalizava com o então senador José Roberto Arruda (PSDB) na política do DF e tinha antipatia do hoje finado senador Antônio Carlos Magalhães (PFL) desde a morte do seu filho, o deputado Luís Eduardo Magalhães.
Acusado de desviar verbas públicas, Luiz Estevão foi julgado e cassado pelo Senado Federal em 28 de junho de 2000 com 52 votos a favor, 18 votos contrários e 10 abstenções. Na época Arruda era líder do governo FHC e ACM presidente do Senado.
Na véspera da votação, a diretora do Prodasen, setor de informática do Senado Federal, Dra. Regina Célia Borges, foi ao apartamento do senador Arruda, que queria lhe fazer uma consulta pessoalmente. No encontro, Arruda pergunta se era possível saber o voto de cada senador na votação supostamente secreta que ocorreria no dia seguinte. Regina Borges nega esta possibilidade, mas depois de consultar outro técnico, Heitor Ledur, descobre ser possível.
No dia seguinte, a votação ocorre normalmente, de forma nominal pelo painel do Senado Federal. O técnico Heitor Ledur retira a lista com o nome de todos os senadores e como cada um votou.
A Dra. Regina Célia entrega a lista a Domingos Lamoglia, assessor do gabinete de Arruda, que a entrega ao chefe. De posse da lista, Arruda vai ao gabinete de ACM, onde conferem os votos e o cumprimento dos acordos feitos para viabilizar a cassação.
Meses depois, no dia 19 de fevereiro de 2001, Antônio Carlos Magalhães resolve visitar três procuradores, Eliana Torelly, Guilherme Schelb e Luiz Francisco de Souza. Este último gravou a conversa. Sem saber que estava sendo gravado, ACM afirma que a senadora Heloísa Helena teria votado contra a cassação de Luiz Estevão e que sabia como cada senador votara.
A conversa é publicada pela revista IstoÉ na semana seguinte e o escândalo torna-se inevitável.
No dia 18 de abril daquele ano, logo depois de ser envolvido no escândalo, Arruda sobe à tribuna para negar com veemência qualquer participação ou conhecimento sobre a fraude. "Chega de leviandade!", brada. Fala em honra, em seus filhos e em Deus. Depois do discurso ele comenta, "matei a pau", achando que o caso logo se encerraria e ele sairia ileso.
No dia seguinte, 19, Regina Célia Borges presta depoimento ao Conselho de Ética transmitido ao vivo pela TV Senado. Regina confessa a culpa pela violação e confirma que obteve a lista dos votos a pedido de Arruda e por ordem de ACM. "Tenho plena consciência do futuro que me espera. Meu único caminho agora é falar apenas a verdade", disse.
Mesmo sem mostrar qualquer prova, a ex-diretora do Prodasen convence a todos de que fala a verdade. "Se essa mulher estiver mentindo, é a melhor atriz do mundo", afirmou o senador Amir Lando, do PMDB de Rondônia, logo depois o depoimento de Regina.
Arruda volta à tribuna no dia 23 de abril e confessa sua participação. Chora, se faz de vítima e tentar mostra o acontecimento como uma simples falha de comunicação. Disse que apenas perguntou se seria possível, mas não ordenou a tiragem da lista.
O conselho de ética aprovou relatório do senador Roberto Saturnino Braga por 10 a 5 pedindo a cassação dos mandatos de ambos os senadores no dia 23 de maio. No dia seguinte, 24, Arruda renuncia ao mandato para fugir da cassação.
Pelas regras atuais, como o pedido de cassação já havia sido aprovado no conselho de ética, a renúncia faria ele perder os direitos políticos por oito anos começando a contar do fim da legislatura, isto é, até hoje ele não poderia concorrer a eleições.
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O GloboO - EDIÇÃO DO DIA 06.12.2009
Página 1
Por que corrupção não dá cadeia no Brasil?
Cerca de 40% das ações contra autoridades no STJ prescrevem ou caem no limbo;
condenações são só 1%
De escândalo em escândalo, o Brasil se acostumou a ver dinheiro em malas, meias e cuecas — como nos recentes mensalões do PT e do DEM.Mas a marca dos escândalos brasileiros é a impunidade: levantamento da Associação dos Magistrados Brasileiros revela que, das ações contra autoridades no Superior Tribunal de Justiça (STJ), 40% prescrevem ou caem no limbo do Judiciário. No STF, o percentual é de 45%. As condenações de autoridades são apenas 1% no STJ — muitas convertidas em penas pecuniárias irrisórias — e inexistem no STF. Desde que foi criada, há 17 anos, a Lei de Improbidade Administrativa condenou 1.605 pessoas.
Para juízes, cientistas políticos, psicólogos e procuradores ouvidos pelo GLOBO, punir corruptos é o caminho para concluir a democratização brasileira, que trouxe o aumento da fiscalização da gestão pública. “Mas não conseguimos consumar a punição, ponta final do processo. O percurso precisa ser fechado urgentemente”, alerta a cientista política Rita Biason. “É grave, porque pode dar condições para candidatos identificados com o ‘rouba, mas faz’ ganharem espaço”, avalia o cientista político Leonardo Barreto. Novo vídeo do escândalo do Distrito Federal mostra que Marcos Valério, operador do mensalão do PT e do PSDB-MG, teria se beneficiado em contrato, e outro compromete o vice Paulo Octávio.
‘O cidadão é refratário: o que a autoridade pode fazer, ele também acha que
pode’
RITA BIASON, cientista política
‘Os tribunais precisam compreender que quem desvia verbas públicas é mais
perigoso do que criminosos comuns’
JANICE ASCARI, procuradora da República
‘Para detectar um corrupto nas eleições, é preciso analisar com profundidade a
consistência de suas promessas e suas atitudes. Quando um político tiver uma
solução fácil para tudo, desconfie’
HILDA MORANA, psiquiatra
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