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sábado, 10 de setembro de 2011

Em 11 de setembro de 2001, cinquenta e seis anos separavam Hiroshima do World Trade Center


"Hiroshima, 6 de agôsto de 1945, o sol estava lindo..."

Comentário sobre a notícia em 9 de setembro de 2011:


"Hiroshima, 6 de agôsto de 1945, o sol estava lindo. Céu azul. Outro verão maravilhoso como aquele só deveria acontecer daqui uns dez anos, pensou a mocinha que se preparava para sair de casa. Daqui a pouco iria levar seu filho ao médico. Terminou de escrever uma carta para o seu amor, um ex-soldado americano, e pai do seu filho, que morava em Nova York. Abriu novamente a carta que John havia escrito e releu o final.
"Te Amo, minha querida Rosa de Hiroshima ! Breve estarei aí para trazer vocês. Seremos muito felizes aqui. Beijo."
Dentro de pouco tempo, ele iria busca-la, se casariam, e ela iria morar no Ocidente. Por enquanto, nada disso podia ser feito porque os seus governos estavam em guerra. Mas tudo iria acabar em breve, porque o seu país não tinha mais como continuar a resistir. Aquela briga, feita pelos senhores da guerra, era terrível.
Encheu um vasilhame com água, e foi regar o canteiro tomado pelos gerânios que tanto amava. Eram lindos. Seu filho de cinco anos veio atrás, trazendo o cachorro consigo. Abraçou o garoto, e disse:
"Plantas são como a gente filho. Elas sentem a dor como nós. Temos que trata-las bem, para que elas sobrevivam. Veja como estão bonitas e alegres."
O céu continuava azul, lindo. Foi até a mercearia que ficava na esquina do quarteirão onde morava, e pelo caminho foi cumprimentando alegremente as pessoas. Depositou a carta para John nos Correios. Dentro de uma loja um rádio transmitia as últimas notícias. Autoridades do governo falavam que a situação estava sob controle. Exortavam o povo à luta e ao trabalho.
Entrou na casa do vizinho, pois sempre fazia compras para o casal de idosos que lá morava. Viviam sozinhos, e ela os amava. Eram como se fossem seus pais que já tinham morrido há muito tempo. Beijou-os. Eles sorriam. Tomou um chá com eles.
Voltou para casa, e o filho estava brincando com o cachorro. Trouxe a roupa para vesti-lo na sala. Começou a fechar as janelas da pequena casa. Olhou para o céu, e um tremor estranho percorreu o seu corpo. Espantada, correu para abraçar o filho. O menino sorria. Ela o apertou contra o peito, e disse:
"Te Amo".
O relogio na parede marcava 08 :14 :00 do dia 6 de agôsto de 1945. Deu um copo d’água para o filho e sussurrou:
"Amor, papai disse que dentro de pouco tempo estaremos no paraíso da terra dele, juntinho com ele. OK?", falou sorrindo alegremente.
Estendeu a mão para o garoto, levando-o para a porta da casa. O cachorro latiu, e foi acariciado pelo seu pequeno dono. Quando ela abriu a porta e olhou para o céu, percebeu um avião solitário lá no alto, e uma coisa cair de dentro dele. Ficou olhando. Um objeto escuro e veloz cortava o céu. Apertou com força a mão do filho, e começou a vivenciar, sem o saber, a queda da primeria bomba atômica na Terra. Dali a pouco os dois seriam transformados em cinzas.
A bomba de quatro mil quilos foi lançada por um avião americano, e iria levar quarenta e tres segundos para detonar. Quando chegou a seiscentos e dezessete metros metros do solo, sobre o centro da cidade, ela explodiu. A temperatura chegou a cinco e meio milhões de graus centígrados. Tudo o que se encontrava a quinhentos metros do epicentro da bomba foi incinerado. Quase ninguém sobreviveu num raio de oitocentos metros. Menos de uma hora depois da explosão, mais de sessenta mil pessoas haviam morrido. Em toda a cidade, cinquenta mil edifícios ruíram. Mais tarde, durante anos, a radiação continuou matando. Até hoje surgem novas vítimas fatais do "raio-trovão", neologismo criado para descrever o indescritível. Elas já são mais de duzentas mil pessoas.
"Os cientistas conhecerão a vergonha", disse um dos arquitetos da bomba, o físico americano Robert Oppenheimer, que nunca se arrependeu do que fez.
Essa mistura de desonra com a falta de arrependimento é a marca que paira sobre a ciência e toda a humanidade, dividindo a história do mundo em duas partes: antes e depois da bomba.
"Bombas são bombas, existem para matar gente", dizem os terroristas oficiais e clandestinos. Cinquenta e seis anos depois, numa linda manhã do dia 11 de setembro de 2001, o ex-soldado americano e namorado da Rosa de Hiroshima, foi para a janela do seu escritório num dos andares mais altos de um dos prédios do World Trade Center, e começou a olhar a bela ilha de Manhattan. Em cima da sua mesa ele tinha a foto gasta pelo tempo da sua amada e do filho. Estava triste. Olhar fixo no infinito, ele ficou olhando um avião enorme aparecer no céu, voando baixinho, fazer uma curva, e vir em direção ao prédio. Foi até a mesa, e apertou o porta-retrato contra o peito.
Ele e mais quase tres mil pessoas morreram na explosão das duas torres."



"New York, 11 de setembro de 2001, o sol estava lindo..."

WILSON GORDON PARKER
wgparker@oi.com.br
Nova Friburgo (RJ)


"Em 6 de Agosto de 1945 às 8:15 H, uma bomba atômica carregada de Urânio explodiu 617 metros acima do centro da cidade de Hiroshima com um grande Flash brilhante, criando uma gigantesca bola de fogo. As duas fotos nos mostram que as pessoas atingidas bem no meio epicentro da explosão viraram silhuetas. Uma foto nos mostra a silhueta de duas pessoas e a outra fotografia mostra escadas de pedra de um Banco, onde uma pessoa foi incinerada pelos raios de calor e só restou a silhueta. Em Hiroshima, tudo o que sobrou de alguns humanos, sentados em bancos de pedras próximos ao centro da explosão, foram as suas silhuetas. Adultos e crianças foram incinerados instantaneamente ou paralisados em suas rotinas diárias, os seus organismos internos entraram em ebulição e seus ossos carbonizados. No centro da explosão, as temperaturas foram tão quentes que derreteram concreto e aço."


Publicado no ESTADO DE SÃO PAULO, "11 de setembro de 2001 e 6 de agosto de 1945", em 11 de setembro de 2011

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