O BRASIL PRECISA DE CHORÓDROMOS
Música e dança na cidade velha, em jerusalem, perto do kotel, o muro das lamentações. Lá em Brasília isso seria um Sucesso fantástico.
No plenário da corrupção brasileira, estamos assistindo o maior festival de mentiras do mundo, e como diriam os antigos, quiçá de todas as épocas.
Os personagens que por lá estão passando, choramingam e juram, pela alma dos parentes mais queridos, que jamais, em tempo algum, praticaram os atos que os difamadores da moral alheia estão lhes imputando.
Expressões sobrenaturalmente espantadas tomam conta de suas faces, ficam vermelhos, suam, gesticulam raivosamente em nome da honra ferida, ficam com a voz embargada, entram num estado de pausa, passam a mão pelo rosto, a cabeça entre as mãos, e começam a chorincar, como se fosse o soluço dos inocentes.
Choram despudoradamente à vista de todos.
Este velho truque continua sendo o preferido dos ladrões e mentirosos, pois não existe nada melhor, para tocar o coração do ser humano, do que o pranto.
Na minha opinião, chorar em público deveria ser proibido, porque o ato de verter lágrimas, entremeadas de soluços, é uma coisa tão tocante e poderosa, que acaba se tornando uma arma.
O ser humano só deveria chorar para si mesmo, e, tal como se faz uma oração, o choro deveria ser feito como se faz um ato de fé.
Tenho certeza que seria fundamental para o engrandecimento da sociedade ocidental, transformar o choro numa explosão mística, transformando o ato laico de chorar numa passagem pela qual possamos chegar aos deuses nos quais acreditamos.
Chorar em público seria um pecado capital perante as leis divinas, e crime inafiançável na lei dos homens.
Nas ruas das cidades que respeitassem o choro, deveriam ser criados Choródromos, onde as pessoas poderiam se refugiar e chorar à vontade.
Lembrando o fantástico presidente da Petrobrás, que queria mudar o nome da empresa para Petrobrax, poderíamos escrever “Xoródromo”. Seria um choro mais universal, e nos lembraria o grande Xuxa Park.
Tenho certeza absoluta que, aqui no Brasil, isto seria um sucesso total, pois iriamos ver o nosso povo cheio de esperança, e sempre de alma lavada pelas próprias lágrimas.
Estes Choródromos nada mais seriam do que longos paredões, que poderiam ser feitos de concreto, ou de pedras, onde encostariamos os nossos rostos, e as duas mãos, ou cotovelos, e chorariamos à vontade.
Para proibir o comércio de lenços nas imediações, as lágrimas teriam que ser enxugadas com as mãos.
Brasília deveria ser eleita a capital mundial do choro, pois o espetáculo que nos foi apresentado pelo aprendiz de cineasta, Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), foi a prova que faltava para levar a capital dessa Casa da Mãe Joana, chamada Brasil, ao cenário surrealístico da corrupção.
Durval resolveu dar uma de Glauber Rocha e começou a filmar tudo o que acontecia de podre nos subterrâneos da roubalheira oficial. Ele foi o braço direito do ex-governador Joaquim Roriz, também acusado de corrupto, que antecedeu o governo de Arruda. A corrupção em Brasilia parece estar toda interligada. Lá começa a banda larga da roubalheira nacional. Legislativo e executivo conectados. Todos de mãos dadas.
O "cineasta" Durval Barbosa filmou tudo o que podia. Dezenas de videos. Imagens limpas e bem visíveis. Audio bem alegre e nítido. Corruptos rezando e chofrando de alegria, com os bolsos abarrotados de propina. O governador Arruda recebendo alegremente um pacote de dinheiro. Uma farra geral. É pena que o Lula não tenha entendido nada do que se passa nos vídeos de Durval Barbosa.
Arruda está preso, mas quando sair da cadeia deverá ser eleito outra vez pelos eleitores. Quando foi obrigado a abandonar o cargo de senador para nao ser cassado por bandidagem, ele se candidatou a deputado federal por Brasilia, e foi o mais votado.
Desta vez, por ter sido preso, deverá ter maior numero de eleitores votando nele, seja lá para o que for.
É incacreditável, mas é a mais pura e cristalina verdade !
Como Brasília é considerada uma àrea mais mística que política, pois vários templos maravilhosos foram erguidos na sua periferia, e a maioria dos políticos vive no mundo da lua, poderiamos fazer uma grande campanha popular para transformar o prédio do Câmara Distrital de Brasília num grande templo destinado ao choro.
Os cinegrafistas dos Telejornais dão a vida para mostrar um entrevistado aos prantos no vídeo. Enquanto a pessoa não explode em lágrimas, eles não tiram a câmara do rosto da mesma. É a prova evidente de que o choro dá audiência. As pessoas adoram ver as outras chorarem. O choro dos outros substitui o nosso. É mais fácil a gente ver os outros chorarem do que a gente chorar. Pelo menos é mais comodo. Menos desgastante. A mulher não perde a maquiagem. O homem da uma de machão.
Tudo isto que falo, não é nada de novo, pois lá em Jerusalem, há mais de dois mil anos, existe o muro das lamentações, onde todo povo alí da região chora e se lamenta sempre que tem vontade.
Como existem muitas brigas depois dos jogos de futebol, uma boa solução para acabar com esta violência, seria colocar Choródromos dentro dos estádios, pois o choro real seria um bom aniquilador de instintos criminosos.
Resumindo, vamos chorar só para nós mesmos, para não chorarmos na hora de protestar contra os corruptos que choramingam para nós, a fim de receberem o nosso perdão, e poderem gastar, tranquilamente, o dinheiro que nos roubaram, fruto de nosso trabalho, suór e lágrimas
O autor, Wilson Gordon Parker, é escritor
WILSON GORDON PARKER
wgparker@oi.com.br
Nova Friburgo (RJ)
No muro das lamentações - Jerusalém - www.gretz.com.br
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