.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

O desavir dos desavergonhados



Depois de assistir durante muito tempo a pose e o cinismo de Renan Calheiros sentado na cadeira de presidente do Senado Federal, e assistir a última sessão em que o mesmo tomou parte, fiquei pensando como o ser humano pode prestar-se a um papel tão vergonhoso.

Mas não foi só Renan que ficou marcado como se fosse um dos bois do seu curral.

Todos os senadores foram despidos diante da opinião pública, mostrando o que existe de pior no mundo político: a falta de caráter, a covardia e falta total de vergonha na cara.

Péssimos artistas, em nenhum momento, nenhum deles conseguiu passar qualquer sensação de inocência, pois esta é uma história em que somente existem culpados.

Todos os senadores participaram de uma conspiração do silêncio durante muito tempo, que começou a se romper por um erro de cálculo cometido pelo rei das vacas e dos bois, em Alagoas.

A bem da verdade, os líderes das oposições no Senado Federal compactuaram para que Renan Calheiros apresentasse durante todo esse tempo o maior show de cinismo e chantagem já visto naquela Casa Legislativa.

A grande lição que devemos tirar disso tudo é a certeza que Renan Calheiros tem provas concretas de corrupção contra a maioria dos senadores. Fora uma meia dúzia que sempre está falando no plenário, o restante colocou o rabo entre as pernas, sumiu, e pelo jeito ainda estã com medo de aparecer.

Já imaginaram se Renanm Calheiros resolve imitar o ex-deputado Roberto Jeffeerson?

A chantagem de Renan deverá voltar a funcionar agora para que ele não seja cassado.

Estou me recordando de outro grande escandalo do Senado Federal, que foi a violação do sigilo do painel de votações do Senado Federal, durante a sessão de 28 de junho de 2000, em que Luiz Estevão, do PMDB do Distrito Federal, foi cassado.

Regina Borges, diretora do Prodasem, ACM e Arruda, foram os protagonistas do caso, fizeram uma conspiração do silêncio durante muito tempo, que começou a se romper quando algumas pessoas puderam ouvir as basófias contadas pelo falecido rei da Bahia, o Renan Calheiros da época, numa conversa com tres procuradores da República, que foi gravada por um deles, na qual o ACM dizia saber quem votou contra a cassação de Luis Estevão.

A bem da verdade, o líder das oposições no Senado Federal, José Eduardo Dutra [PT], já sabia de tudo há muito tempo, pois na véspera da sessão que cassou o então senador Luis Estevão, ele afirmou que o Arruda havia lhe dito que tinha como saber o voto "secreto" de todo mundo.

Estranhamente, o senador petista não denunciou tal fato, por achar que não deveria revelar uma conversa particular. Para completar, disse que grande parte dos senadores sabiam que o painel poderia ser violado.

Ou seja, todos sabiam !

José Eduardo Dutra [PT], na época, foi o Mercadante [PT], de hoje.

Regina Borges, que alguns quiseram trasnformar em heroína e santa, uma Joana D’Arc às avessas, apenas abriu o bico, e rompeu o pacto do silêncio feito com os seus asseclas, porque um funcionário do seu departamento confessou tudo. Depois da acareação, a arrombadora declarou estar com a consciência tranquila, o dever cumprido, e que já poderia dormir sem tomar lexotan. Tão mal caráter como os seus comparsas senadores, deveria ser demitida do serviço público. Não foi.

O relator do processo no Conselho de Ética no Senado naquela época, Saturnino Braga, deu o primeiro passo para transformar todo esse descarado arrombamento do painel eletrônico numa grande pizza.

Vejam só : exatamente como acontece nos dias de hoje com as comissões que são formadas para julgar Renan Calheiros, onde nenhum senador tem coragem de ser o relator delas, a não ser algum senador que não irá culpar o corrupto de Alagoas.

Alegando um estado de “caça às bruxas”, uma pressão muito grande da imprensa e da sociedade, para que seja cassado o mandato dos arrombadores, o senador Roberto Saturnino Braga declarou que precisaria se recolher para um lugar tranquilo, onde iria meditar, para saber se a abertura do processo para a cassação de mandato seria a melhor atitude a ser tomada.

Exatamente como acontece nos dias de hoje. A mesma conversa.

Não foi a primeira vez na história da vida pública do senador Saturnino Braga, que ele apareceu com essa conversa de pressão sobre a sua pessoa, pois quando foi prefeito do Rio de Janeiro, tinha os mesmos ataques depressivos, e se refugiava em locais calmos e isolados, para poder meditar sobre as coisas podres que aconteciam ao seu redor. Quando largou a prefeitura do Rio de Janeiro, em 1988, ele declarou que a cidade estava falida.

Enquanto isso, o falecido ACM recebia o apoio de baianos famosos, e o Arruda dizia que cassação de mandato era igual a pena de morte.

Num país onde a impunidade faz parte do cotidiano, a falta de vergonha torna-se algo normal. Uma grande parcela do povo, já naquela época, não sentia mais indignação com os corruptos. Roubalheiras e atos ilícitos aconteciam à céu aberto, e os governantes ja construiam a tese de que as investigações deveriam levar o país a ingovernabilidade.

O Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, já naquela época, dizia que não aceitava uma CPI para apurar a corrupção no governo, porque não existia um fato determinado.

Realmente, não existia um fato determinado, mas sim, vários fatos determinados. Todos nós gostaríamos de saber, tal como hoje, qual a grande diferença entre uma coisa e outra.

Só mesmo num país onde o absurdo é coisa antiga, e uma rotina eterna, é que podemos ouvir, placidamente, o presidente de plantão falar tamanho descaramento.

Lula é hoje, o FHC de ontem !

E desta forma, a história se repete, e a vala da vergonha que toma conta do Senado Federal, não começou nos dias de hoje, mas é coisa que vem de longe.

É sempre bom lembrar que os acusados daquela época, para escapar da cassação, entregaram os seus mandatos. ACM foi eleito novamente senador pela Bahia, e Arruda foi eleito deputado federal em 2002 pelo PFL. Disputou as eleições para governador do Distrito Federal em 2006, pelo mesmo partido, e foi eleito em primeiro turno.

Isto é uma vergonha !

Assim sendo, Renan fará um grande acôrdo com o seus "amigos" chantageados, será absolvido, deverá deixar o mandato para não correr o risco de ser cassado, e salvar as aparências, e irá disputar a vaga ao senado em Alagoas, será eleito, e na próxima legislatura estará firme e forte no plenário, disputando a presidência daquela Casa Legislativa. E será eleito pelos senadores que estarão por lá. Tudo como dantes no quartel de Abrantes.

Assim caminha a politica no Brasil !

*

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home